O Livro de São Cipriano, O Bruxo.Nunca irei me esquecer do momento que li esta inscrição numa capa prateada em uma livraria durante uma das minhas peregrinações literárias nas manhãs sabáticas. Um iniciante no mundo literário, apesar de já estar quase completando minha segunda década de vida, ainda me via arraigado pelo temor inocente dos dogmas religiosos em mim incutidos durante minha infância.
Assim, passei sem nem tocar a capa do “Livro de São Cipriano” que nunca saiu da minha cabeça, como uma foto eternamente emoldurada na parede em um corredor qualquer. Em conversas futuras com conhecidos tomei contato com o teor do conteúdo escrito no “Livro de São Cipriano”, e perdi o interesse por já encarar certos assuntos de modo mais cético e menos temeroso.
Mas algo nunca deixou de me incomodar. Conhecia um sem número de nomes de santos e homens de valor no que tange a fé, entretanto, sempre me perguntava: Quem foi São Cipriano? Existiu realmente ou não passaria de mais um mito ou figura alegórica? E mais, Quem foi São Cipriano na Igreja Católica?
Para meu total deleite, descobri, em algumas pesquisas, que não existiu apenas um São Cipriano, mas dois! E, apesar de especulações acerca de serem a mesma pessoa, registros mostram que os dois santos homônimos coexistiram por apenas oito anos.
QUEM FOI SÃO CIPRIANO NA IGREJA CATÓLICA?
O primeiro São Cipriano nasceu por volta do século III d. C., batizado como Táscio Cecílio Cipriano e que teve a fortuna de ser membro de uma família pagã e abastada do norte da África.
Táscio Cipriano se tornou advogado e converteu-se ao cristianismo somente aos trinta e cinco anos, sendo proclamado, posteriormente, Bispo de Cartago.
Neste contexto em que esteve inserido, Táscio Cipriano se firmou na história como um orador sem par e como São Cipriano produziu manuscritos de valor inestimável para compreender a Igreja primitiva.
Cipriano de Cártago, como ficou conhecido, não só se tornou um dos autores mais populares da antiguidade e Idade Média dentre os estudiosos, bem como a pedra fundamental da Igreja na África.
SÃO CIPRIANO, O “PAPA AFRICANO”…
A partir do ano 249 d. C. Cipriano de Cártago sofreu uma perseguição feroz do imperador Décio.
Se escondeu, fugindo de cidade em cidade, mas sempre executando seu trabalho religioso até ser preso, processado e morto em 14 de setembro de 258.
Cipriano de Cártago virou mártir da Igreja, ficou conhecido como o “Papa Africano“ e sua linha de pensamento filosófico o credencia, seguindo alguns de seus estudiosos, como uma semente do protestantismo no seio do catolicismo primitivo.
Todavia, apesar de costumeiramente associados como um só São Cipriano, o livro cuja capa me impactou fora escrito por outro Cipriano, não de Cartago, mas da Antioquia, também no norte da África.
Meu ceticismo atual me leva a achar a história deste segundo Cipriano tão interessante quanto impossível de se crer por suas pinceladas de espirito catequista infantil.
SÃO CIPRIANO, O “PAPA AFRICANO”…
Depois de descobrirmos quem foi São Cipriano na Igreja Católica, nos voltaremos a seu homônimo bruxo, ou o feiticeiro.
E acredito que este personagem peculiar, que se destacou em dois campos religiosos opostos, é a resposta para a sua pergunta de quem foi São Cipriano? Ao menos se chegou aqui pelo curiosidade gerada pelo seu livro.
Cipriano da Antióquia foi um estudioso destacável do ocultismo por toda a sua vida e, posteriormente, teria se convertido ao catolicismo quando conheceu a pura e jovem Justina.
Sua fama cresceu ao longo dos séculos por ter escrito o Livro de São Cipriano, uma espécie de grimório que traz encantamentos e sortilégios diversos.
A lenda diz que seu berço foi em uma abastada família pagã, chegando ao mundo no ano de 250 d. C., na Antioquia.
Desde infante, Cipriano da Antióquia foi preparado intelectualmente nos mais diversos assuntos como astrologia, feitiçaria, alquimia, astrologia e adivinhação.
Logo os limites de Antioquia se tornaram apertados para sua mente privilegiada e Ciprinao, o bruxo, iniciou uma viagem pelo mundo conhecido, absorvendo conhecimentos de culturas diversas, pertencentes aos mais diferentes povos e variados assuntos que eram do seu interesse.
A lenda de Cipriano da Antióquia reforça que os deuses evocados nada podiam contra o sinal da cruz empregado pela donzela pura.
Frustrado, Cipriano se opõe às divindades pagãs e influenciado por Eusébio, seu amigo, se converte ao cristianismo, desfazendo de seus bens e queimando boa parte de seus manuscritos.
Não demoraram até as perseguições iniciarem.
Primeiramente, por parte dos espíritos renegados por Cipriano. Segundo o próprio, numa noite escura de sexta-feira, em uma rua deserta (?!?), teria sido interpelado por quatorze fantasmas de bruxas.
Entretanto, a perseguição do mundo material não tardaria, nem para Cipriano, quanto para Justina, que foram torturados pelo imperador Diocleciano para que negassem a fé cristã.
O bruxo Cipriano, agora convertido, teria sido açoitado com pentes de ferro e atirado numa caldeira fervente de banha e cera sem nada sofrer e não renunciar. Mas calma, pois o mais fantástico e insólito desta lenda ainda está por vir.
Pela tradição explanada, o feiticeiro Athanasio teria alardeado que o feito de Cipriano se deveria a algum sortilégio empregado por ele e, como discípulo de Cipriano, invocou pelos deuses pagãos e se lançou no caldeirão fervente que outrora estivera o ex-bruxo e Justina.
O destino de Athanasio não foi menos brando e sua carne fritou em poucos segundo na frente de todos.
A morte de Cipriano da Antióquia foi decretada pelo imperador para o dia 26 de setembro de 304, por decapitação. Seus restos mortais foram expostos como era de costume à época e recolhido por cristãos seis dias depois.
O destino de Justina, que também sobreviveu ao caldeirão fervente, foi selado de modo análogo pelo imperador. O dia 02 de outubro foi proclamado como o dia de São Cipriano.
POR FIM…
A existência histórica do bruxo Cipriano é contestada pelos biógrafos modernos sobre a justificativa de que os historiadores antigos haveriam se confundido com seu homônimo de Cartago e, embasados em algumas contradições destas obras antigas, duvidam da veracidade da existência de Cipriano de Antioquia.
São Gregório haveria pronunciado um sermão em 3 de outubro de 379 em honra de um Cipriano que havia sido mago, versado em filosofia, convertido ao cristianismo e se tornado Bispo de Cartago, sendo muito influente em seu tempo e teve seu fim decretado pelo imperador Décio.
Já a imperatriz Eudóxia, em meados do século V, fala de um mesmo Cipriano, mago, convertido ao cristianismo, bispo de Antioquia e martirizado por Diocleciano.
Por toda a Idade Média, textos nas mais diversas línguas surgiam a cada dia difundindo a lenda de São Cipriano, entretanto é bom deixar claro que não existe dúvida sobre a existência histórica de Cipriano de Cartago e sim de Cipriano da Antioquia, a quem o Livro de São Cipriano é atribuído.
Os defensores de Cipriano da Antioquia alegam que as contradições entre São Gregório e Eudóxia seriam artífices do demônio para não verificar a santidade de um homem que havia vendido sua alma à ele e que depois o renegou por amor a Cristo.
E você prezado leitor, no que acreditas?
Leia Mais:
- Hermes Trismegisto | O Grande Sol Central do Esoterismo
- Aleister Crowley | As Influências do Ocultista Inglês no Rock e no Metal
- Robert Johnson | O Blues, a Encruzilhada e o Diabo!
- O Diabo na Música Ocidental | Do Barroco ao Black Metal
Ofertas Imperdíveis Sobre o Tema: