Quem Foi Allan Kardec? A Vida e os Livros do Codificador do Espiritismo

Conheça a vida, os livros e os ensinamentos do francês Allan Kardec. Pedagogo e adepto do método científico, este francês foi o codificador do Espiritismo. Graças a ele, a história das religiões nunca mais foi a mesma.

Allan Kardec é amplamente reconhecido como o fundador do Espiritismo, um movimento espírita que ganhou popularidade no século XIX. Este artigo escrito por Lia Hama para a edição de novembro de 2004 da revista “Religiões”, oferece uma visão geral da vida de Kardec, seus ensinamentos e suas contribuições significativas para o desenvolvimento do Espiritismo. Explore os princípios e as crenças desse movimento espiritual e obtenha informações sobre seu impacto no mundo da espiritualidade.

Conheça a vida, os livros e os ensinamentos do francês Allan Kardec. Pedagogo e adepto do método científico, este francês foi o codificador do Espiritismo. Graças a ele, a história das religiões nunca mais foi a mesma.


Os Livros de Allan Kardec que Codificaram o Espiritismo

  1. “O Livro dos Espíritos”
  2. “O que é o Espiritismo”
  3.  “O Livro dos Médiuns”,
  4. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
  5. “O Céu e o Inferno”
  6. “Obras póstumas”
  7. “A Gênese”

Allan Kardec: O Embaixador dos Espíritos

França, século 19. Nos salões mais elegantes do país, damas e cavalheiros reuniam-se para observar mesas que se movi- mentavam, erguiam-se no ar e respondiam às mais variadas questões me- diante batidas no chão.

As sessões de mesa girante, como eram conhecidas, viraram moda em cidades como Paris e Lyon. A princípio inexplicável, o fenômeno divertia alguns e inspirava desconfiança em outros. “Crerei nisso quando o vir, e quando se me tiver provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula; até lá, permita que eu história de veja no caso não mais que fazer dormir”, teria afirmado o pedagogo e intelectual Hippolyte-Léon Denizard Rivail, em 1854.

Anos mais tarde, o cético professor Rivail, que ficou conhecido como Allan Kardec, seria o principal responsável difundir a doutrina espírita pela França por e, de lá, para o mundo.

“Kardec foi o codificador do Espiritismo. Com um raciocínio lógico, investigador, ele conseguiu compreender o fenômeno mediú- nico e possibilitar a análise aprofundada e séria da existência dos espíritos”, afirma Nestor Masotti, presidente da Federação Espírita Brasileira e secretário-geral do Conselho Espírita Internacional.

Pesquisador dedicado, Allan Kardec começou a freqüentar as sessões de mesa girante com o objetivo de estudar o fenômeno. Por intermédio de médiuns, ele fazia inúmeras perguntas aos espíritos. As respostas eram então analisadas, comparadas e organizadas.

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O resultado desse trabalho foi “O Livro dos Espíritos”, publicado em 1857. A obra traz mais de mil perguntas e respostas sobre a doutrina espírita. Mais tarde vieram outras quatro obras: “O que é o Espiritismo”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O Céu e o Inferno”. Juntos, os cinco livros formam o alicerce da doutrina espírita.

Segundo os estudiosos espíritas, o fenômeno mediúnico já existia havia muito tempo, mas a humanidade mostrava-se impotente para explicá-lo. Os protagonistas desse fenômeno, ou seja, os médiuns – capazes contato com os espíritos -, eram considerados santos ou bruxos. Não havia estudos sobre o assunto.

Allan Kardec teria sido o primeiro a analisá-lo seriamente, por meio do uso do método científico. “Ele notou que estava diante de um fato que, como qualquer evento na natureza, tinha suas leis. Por isso, decidiu conhecê-las para melhor utilizá-las”, afirma Nestor.

Para o Espiritismo, as mesas girantes movimentavam-se graças à intervenção dos espíritos desencarnados. A doutrina apóiase nos termos “encarnados” e “desencarnados” em lugar de “vivos” e “mortos”, já que, acreditase, a alma não morre, mas sepa rase do corpo. “O trabalho de Kardec descortinou um mundo novo, já que passamos a melhor compreender de onde viemos, para onde vamos e quais são as leis que regem a vida”, diz Nestor.

Neste artigo queremos refletir sobre a seguinte questão: quem foi o homem Allan Kardec?

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Allan Kardec era um pseudônimo de Hippolyte Rivail

Nascido em Lyon em 3 de outubro de 1804, Hippolyte Rivail era filho do juiz JeanBaptiste Antoine Rivail e de Jean ne Louise Duhamel. De família católica, ele estudou na Suíça, no Instituto de Yverdon, fundado pelo pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi.

Localizado no castelo Zahringen, o instituto funcionava em regime de internato e era de orientação protestante. O pseudônimo pelo qual Rivail tornouse conhecido foi
adotado depois que, numa das sessões espíritas, um médium lhe contou que em vidas passadas ele teria sido um druida (como eram chamados os sacerdotes do povo celta) de nome Allan Kardec.

Rivail bacharelouse em Letras e Ciências e depois mudouse para Paris. Poliglota, além do francês falava alemão, inglês, italiano, espanhol e holandês. Por isso, ao longo de sua vida, trabalhou também como tradutor.

Aos 20 anos, Allan Kardec publicou seu primeiro livro didático, o “Cours Pratique et Théorique d’Arithmétique” (“Curso Prático e Teórico de Aritmética”), concebido de acordo com o método de seu mestre Pestalozzi. Um ano depois, fundou sua primeira escola, a École de Premier Degrée, que seria sucedida, em 1826, pela Institution Rivail. Ensinava física, química, astronomia e anatomia.

Aos 24 anos, Allan Kardec lançou uma proposta de diretrizes para a educação pública. A instituição funcionou até 1834. Depois foi sucedido pelo Lycée Polyma- thique, dirigido por Rivail até 1850, quando então ele encerrou suas ativida- des como professor.

Essa sólida formação intelectual foi tida como fundamental para 0 êxito de Rivail em sua tarefa de compreender as bases do Espiritismo. “Sua atitude científica de buscar a evidência e comparar várias notas de fontes diferentes antes de adotar o fato como válido foi de enorme valia para a codificação da doutrina. Por ter sido um metódico pedagogo, tornou-se a melhor pessoa em seu tempo para a tarefa que executou com maestria”, afirma Paulo Wedderhoff, coordenador de projetos da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas.

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Como Allan Kardec Difundiu o Espiritismo?

Allan Kardec foi ajudado na tarefa de difundir o Espiritismo por sua mulher, a professora Amélie Gabrielle Boudet, com quem se casou em 1832. Os dois nunca tiveram filhos.

As primeiras reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada em 1o de abril de 1858, eram realizadas na residência de Allan Kardec. Com o número crescente de freqüentadores, foi necessário um local mais amplo e, por isso, os membros da sociedade passaram a alugar uma sala, dividindo as despesas.

O codificador do Espiritismo dava palestras pelo país e costumava reunir os amigos em jantares em sua casa. Também se correspondia com pessoas do mundo inteiro e durante sua vida escreveu milhares de páginas, entre livros e edições da Revista Espírita, criada em 1858. Porém, Kardec nunca desenvolveu a capacidade de receber mensagens e dependia de outros médiuns para se comunicar com os espíritos.

A Perseguição Religiosa

No século 19, a França se dividia entre católicos e ateus, estes últimos influenciados pelas idéias iluministas que, entre outras coisas, pregavam o fim da intromissão da Igreja em assuntos do Estado.

Apesar de ser definida como uma doutrina cristã, o Espiritismo foi duramente perseguido pela Igreja Católica. O episódio mais conhecido ocorreu em Barcelona, em 9 de outubro de 1861, quando por ordem do bispo da cidade foram queimados, numa enorme fogueira, 300 livros sobre o Espiritismo, entre eles “O Livro dos Espíritos”“O Livro dos Médiuns”.

Os ataques a Kardec também vinham na forma de cartas ferinas, artigos em jornais e de suspeitas levantadas por companheiros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que diziam que Allan Kardec teria enriquecido à custa do Espiritismo. “Não mais conheci o repouso; mais de uma vez sucumbi ao ex- cesso de trabalho, minha saúde foi alterada e minha vida comprometida”, relatou ele. Mesmo assim, ele afirmava ter se mantido forte na tarefa de difundir a doutrina espírita. “Persegui minha tarefa com o mesmo ardor, sem me preocupar com a malevolência de era objeto”, afirmou.

Em seus relatos, Allan Kardec conta que já havia sido alertado sobre as adversidades que enfrentaria. Em abril de 1856, ele teria recebido, por intermédio de uma médium, a notícia de que levaria adiante a tarefa de divulgar “uma religião bela e digna do Criador, cujos alicerces já haviam sido colocados”. O anúncio teria sido confirmado por outros dois espíritos no mesmo ano. Numa das comunicações, estaria a previsão de grandes adversidades, mas que seriam recompensadas pela missão que teria sido destinada a ele.

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O Legado de Allan Kardec

Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, em Paris.

A causa mais provável é que tenha havido a ruptura de um aneurisma de aorta. O corpo foi sepultado no cemitério de Montmartre e, mais tarde, os restos mortais foram transferidos para o cemitério Père Lachaise, onde foi erguido um monumento em sua homenagem.

Estima-se que mais de mil pessoas tenham acompanhado seu cortejo fúnebre.

Há alguns anos, levantou-se uma polêmica em torno da possibilidade de Allan Kardec ter reencarnado no brasileiro Chico Xavier. A hipótese, no entanto, é vista com ceticismo. “Essas questões ligadas a notícias de reencarnações anteriores de vultos destacados ficam muito no campo da especulação”, afirma Nestor Masotti.

Segundo ele, ao confrontar uma pessoa encarnada com uma suposta personalida- de anterior, verifica-se se os traços de personalidade se mantêm, já que os espíritos, ao desencarnar, carregam consigo suas ca-racterísticas – a maneira de agir, de raciocinar, de proceder.

“Chico, afirmam os espíritos, não foi Kardec e a simples observância da personalidade de um e de outro nos leva à constatação do óbvio. Kardec era um erudito em excelência. Chico, um homem de ação”, diz Betho leesus, estudioso do assunto há 30 anos.

Polêmicas à parte, hoje as obras do codificador do Espiritismo são lidas por milhões de pessoas em todo o mundo. Um sucesso que nem Allan Kardec, em seu tempo, imaginava. “Tirando-me da obscuridade, o Espiritismo me lançou num novo rumo; em pouco tempo, vi-me arrastado por um movimento que estava longe de prever. Quando concebi a idéia de O Livro dos Espíritos, era minha intenção não me pôr em evidência e permanecer desconhecido; mas, para logo ultrapassados os limites que eu imaginara, isso não me foi possível”, escreveu. “Compreendi então a imensidade da minha tarefa e a importância do trabalho que me restava fazer para completá-la.” E arrematou: “Foi a obra da minha vida.”

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As Influências Filosóficas Sobre a Codificação Espírita de Allan Kardec

Codificado no século 19, o Espiritismo sofreu forte influência do positivismo de Augusto Comte e da teoria da evolução de Charles Darwin. “Nenhum pensamento nasce do nada. Ha sempre um contexto histórico envolvido”, diz a antropóloga Ceres de Carvalho Medina, da PUC de São Paulo. “Na época em que Kardec viveu, a Europa se encontrava num intenso processo de desenvolvimento capitalista, fruto da Revolução Industrial, que exigia o desenvolvimento científico. Naquele momento, a física, a química e mesmo as ciências humanas tiveram um impulso muito grande”, afirma Ceres.

Fiel ao espírito de sua época, Allan Kardec tinha grande preocupação em dar uma roupagem científica ao Espiritismo. Seu método consistia em observar, examinar, comparar, analisar e teorizar sobre o objeto de estudo.

A doutrina espírita era definida como uma ciência que tratava da natureza, origem e destino dos espíritos, assim como de suas relações com o mundo corpóreo. “Apliquei a essa nova ciência o método experimental. Nunca elaborei teorias preconcebidas. Obser- vava cuidadosamente, comparava para remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos, não ad- mitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão”, escreveu Allan Kardec. “Fazia- se mister, portanto,…ser positivista e não idealista.”

Assim como o positivismo, a concepção evolucionista marcou a obra de Kardec. Em “O Livro dos Espíritos”, ele relaciona categorias de espíritos conforme a evolução de cada um. Existiriam os espíritos imperfeitos (com propensão ao mal), os bons (que desejam o bem) e os puros (que têm superioridade moral e intelectual em relação aos demais e, por isso, não reencarnam mais, ou seja, têm vida eterna). Por meio de sucessivas reencarnações, todos os espíritos percorreriam uma escala de evolução até se tornar um espírito puro.

A postura de Allan Kardec aproximava-se do positivismo, filosofia dominante no período, que defendia sempre a pesquisa rigorosa das leis que regem um fenômeno. Apesar do racionalismo vigente na época, Lyon, terra natal de Kardec localizada na região leste da França, era cercada por uma aura mística.

Fundada em 43 a.C. e batizada de Lugdunum, foi colônia romana e capital religiosa da Gália, região ocupada pelos celtas. “Em toda a Gália, são tidos em conta e estima os cavaleiros e druidas. Estes entendem de coisas sa- gradas, cuidam dos sacrifícios públicos e particulares; explicam as doutrinas e os cerimoniais da religião. Acreditam que as almas não perecem e passam, depois da morte, de uns para outros corpos, e com isso julgam incitar-se principalmente ao valor, desprezando o medo da morte”, teria dito o imperador romano Júlio César.

Essa teoria da migração das almas iria influenciar o trabalho de Allan Kardec. Também estavam em voga na Europa daquela época conceitos vindos das colônias da França e da Inglaterra no Oriente, tais como as idéias hindus de carma e reencarnação.

(*) Artigo escrito por Lia Hama para a edição de novembro de 2004 da revista “Religiões”.


Os Livros de Allan Kardec que Codificaram o Espiritismo

  1. “O Livro dos Espíritos”
  2. “O que é o Espiritismo”
  3.  “O Livro dos Médiuns”,
  4. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
  5. “O Céu e o Inferno”
  6. “Obras póstumas”
  7. “A Gênese”

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