Descubra a tríade corpo, perispírito e espírito no Espiritismo de Allan Kardec, com insights de O Livro dos Médiuns, explorando a conexão entre matéria, espiritualidade e evolução eterna.
Introdução
A constituição do ser humano sempre intrigou filósofos e espiritualistas ao longo da história. No Espiritismo, a compreensão da essência humana vai além do corpo físico, explorando as conexões entre o mundo material e o espiritual.
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, oferece um entendimento único sobre essa tríade: corpo, perispírito e espírito. Essa perspectiva revela como a interação desses elementos sustenta a existência terrena e a continuidade da vida após a morte.
Este artigo busca aprofundar essa visão, destacando a importância do perispírito como o elo essencial que une a matéria ao espírito e conecta o ser humano ao universo espiritual.
Alan Kardec e o livro dos Médiuns
Allan Kardec, nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi um pedagogo francês que, ao investigar fenômenos mediúnicos, codificou o Espiritismo.
Em 1861, publicou O Livro dos Médiuns, obra que aprofunda os aspectos práticos da comunicação espiritual, oferecendo diretrizes para médiuns e estudiosos. Este livro complementa O Livro dos Espíritos, consolidando os fundamentos da doutrina espírita e orientando a prática mediúnica com rigor e metodologia científica.
Através de suas obras, Kardec estabeleceu uma base sólida para o Espiritismo, influenciando profundamente a espiritualidade moderna.
Nossa fonte para este artigo será majoritariamente “O Livro dos Médiuns”, de Alan Kardec, em seu Capítulo 1, “Ação dos Espíritos Sobre a Matéria”, da Segunda Parte.
A Tríplice Essência do Ser Humano no Espiritismo
No Espiritismo, a constituição do ser humano vai além da compreensão materialista, integrando três elementos fundamentais: o corpo, o perispírito e o espírito.
Allan Kardec esclarece que “o espírito não é uma abstração, é um ser definido, limitado e circunscrito. O espírito encarnado no corpo constitui a alma; quando o deixa, na morte, não despojado de todo o seu envoltório. Todos nos dizem que conservam a forma humana e, com efeito, quando nos aparecem é sob aquela que nós os conhecemos.”
Essa afirmação ressalta que, mesmo após a morte, o espírito mantém sua individualidade, o que é essencial para a compreensão da continuidade da vida.
Além disso, Kardec organiza a essência humana de forma tripartida: “numerosas observações de fatos irrecusáveis, dos quais falaremos mais tarde, conduziram a esta consequência de que há no homem três coisas:
- Alma ou espírito: o princípio inteligente em que reside o senso moral;
- o corpo: envoltório grosseiro, material, do qual está temporariamente revestido para o cumprimento de certos objetivos providenciais;
- o Perispírito: o envoltório fluídico, semi-material, servindo de laço entre a alma e o corpo.”
Essa tríade evidencia como o corpo, transitório e perecível, conecta-se ao espírito por meio do perispírito, que é o intermediário essencial na manifestação da consciência e da individualidade em qualquer plano de existência.
O Perispírito: Elo Entre o Espírito e o Corpo
No Espiritismo, o perispírito é descrito como o elemento que une o corpo ao espírito, sendo essencial tanto para a existência material quanto para a continuidade da vida espiritual.
Kardec explica: “Este segundo envoltório da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida corporal; é o intermediário de todas as sensações que o Espírito recebe, aquele pelo qual o Espírito transmite sua vontade ao exterior e age sobre os órgãos. Para nos servir de uma comparação material, é o fio condutor que serve para a recepção e a transmissão do pensamento.”
Assim, o perispírito age como um canal por onde a consciência se manifesta, tornando possível a interação entre o mundo físico e o espiritual.
Mesmo após a morte, o perispírito mantém sua relevância.
Kardec afirma: “A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação do envoltório grosseiro, daquele que a alma abandona; o outro se separa e segue a alma que se encontre, dessa maneira, sempre com um envoltório; este último, se bem que fluídico, etéreo, vaporoso, invisível para nós em seu estado normal, não deixa de ser matéria, embora, até o presente, não pudéssemos apanhá-la e submetê-la à análise.”
Essa descrição reforça que o perispírito não é um conceito abstrato, mas um componente essencial da estrutura espiritual, dotado de propriedades materiais sutis e imprescindíveis para a identidade do espírito.
Além disso, Kardec deixa claro que o perispírito é inseparável do espírito: “Seja durante sua união com o corpo, seja depois de sua separação, a alma jamais está separada de seu perispírito.”
Essa permanência do perispírito demonstra sua função contínua de expressão e manifestação do espírito em diferentes planos de existência.
Sua forma também guarda semelhanças com o corpo físico, mas com características únicas.
Segundo Kardec: “O Perispírito tem a forma humana. Mas a matéria sutil do perispírito não tem a tenacidade nem a rigidez da matéria compacta do corpo; se podemos nos exprimir bem assim, ela é flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; amolda-se à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência a seu gosto, enquanto o envoltório sólido lhe oferece uma resistência insuperável.”
Essa maleabilidade permite que o perispírito se ajuste conforme a necessidade, refletindo a essência e a evolução do espírito.
Mais do que isso, o perispírito demonstra uma capacidade extraordinária de transformação.
Kardec destaca: “Uma vez liberto da prisão corporal, o perispírito se expande e se contrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.”
Essa adaptabilidade revela a profunda conexão entre o estado espiritual do indivíduo e as características de seu perispírito, evidenciando sua função como veículo dinâmico da alma.
Embora seja fluídico, o perispírito possui uma natureza material. Kardec observa que “embora fluídica, não deixa de ser uma espécie de matéria.” Essa afirmação reforça sua existência tangível, ainda que sutil, desafiando os limites da percepção humana e das ferramentas científicas convencionais.
Por fim, Kardec conclui: “O Espírito é uma chama, uma chispa; isto se deve entender do Espírito, como princípio intelectual e moral, e ao qual não se poderia atribuir uma forma determinada; mas, em qualquer grau que se encontre, está sempre revestido de um envoltório ou perispírito, cuja matéria se eteriza à medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia; de tal sorte que, para nós, a idéia de forma é inseparável da do Espírito, e que não concebemos um sem o outro. O perispírito faz, pois, parte integrante do homem; mas o perispírito sozinho não é o Espírito como apenas o corpo não é o homem, porque o perispírito não pensa; é para o Espírito o que o corpo é para o homem; é o agente ou instrumento de sua ação.”
Essa visão coloca o perispírito como um elemento vital, não apenas para a manifestação da vida, mas para a jornada evolutiva do espírito. Como elo entre o corpo e o espírito, ele age como um instrumento essencial que possibilita o aprendizado, a interação e a transformação em todos os níveis da existência.
O Três Princípios do Homem Segundo o Esoterismo
O conceito de perispírito, tão detalhado por Allan Kardec no Espiritismo, também encontra correspondências em outras tradições esotéricas. Papus, renomado ocultista franco-espanhol do século XIX, explorou a constituição humana em sua obra” Como Está Constituído o Ser Humano”.
Ele afirmou que “a maior parte das discussões provêm de nomes diferentes dados a um mesmo princípio pelos diversos filósofos e por diferentes escolas”, destacando que, apesar das terminologias variadas, os conceitos fundamentais permanecem alinhados.
Papus, cujo nome real era Gérard Anaclet Vincent Encausse, foi fundador do martinismo moderno e da Escola Hermética de Paris, sendo amplamente reconhecido como um dos maiores ocultistas de seu tempo.
Neste seu folheto introdutório, ele resumiu a estrutura tripartida do ser humano — corpo, perispírito e espírito — em uma tabela destinada a facilitar o estudo das ciências ocultas para principiantes. Sua abordagem buscava tornar acessível a compreensão dos elementos que compõem a natureza humana e mostrar como diferentes tradições convergem em suas definições.
A Tabela segue abaixo:
A Carruagem de Papus
Uma das contribuições mais marcantes de Papus foi sua analogia entre o corpo, o perispírito e o espírito com uma carruagem.
Segundo ele, “o cocheiro (diretor) seria a imagem do Espírito; o cavalo (motor), seria a imagem do Perispírito; a carruagem (imóvel), seria a imagem do Corpo.”
Em resumo, segundo ele, a carruagem é uma imagem silenciosa e passiva do corpo físico, o cavalo, passivo e motor, é a imagem do Perispírito e o cocheiro ativo e diretor é a imagem do Perispírito.
Papus explica que essa relação é essencial para o funcionamento pleno do ser humano. Sem o cocheiro, a carruagem e o cavalo não teriam direção. Da mesma forma, o cavalo, que representa o perispírito, atua como mediador da ação, sendo responsável por transmitir os impulsos do espírito ao corpo. O corpo, por sua vez, é a base material que permite a manifestação no plano físico.
Obviamente, este um contexo mais profundo nesta alegoria que deixaremos para discutir em um artigo dedicado ao trabalho de Papus. Em todo cado, o livro “Como Está Constituído o Ser Humano” pode ser encontrado neste link.
Conclusão
A compreensão da tríplice essência do ser humano — corpo, perispírito e espírito — é fundamental para explorar as conexões entre o mundo material e o espiritual.
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, oferece uma abordagem meticulosa, enquanto pensadores como Papus trazem analogias enriquecedoras que ampliam nossa percepção.
O perispírito, como elo essencial, revela a continuidade da vida e a dinâmica da evolução espiritual, permitindo ao ser humano aprender e transformar-se em diversos planos.
Essa visão integrada não apenas esclarece o papel de cada elemento, mas também nos convida a refletir sobre nossa jornada espiritual e propósito existencial.
Os Livros de Allan Kardec que Codificaram o Espiritismo
- “O Livro dos Espíritos”
- “O que é o Espiritismo”
- “O Livro dos Médiuns”,
- “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
- “O Céu e o Inferno”
- “Obras póstumas”
- “A Gênese”
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