Lúcifer | Uma Entidade do Mal ou o Portador da Luz?

Lúcifer, Satanás, Diabo ou Demônio são, na nossa sociedade cristã ocidental, alcunhas para um mesmo ser. Mesmo com toda esta carga de iniquidade, esta figura se faz presente nas mais diversas mitologias (com outros nomes, conforme veremos posteriormente) e, também, na cultura pop em geral.

Para confirmar esta hipótese, basta se lembrar para quem Fausto, personagem de Goethe, vende sua alma em troca de fortuna e juventude, ou onde se ambienta a primeira parte da jornada de Dante na sua “A Divina Comédia”.

Mas quem, ou o que realmente é esta figura tão atemorizante? Claro que não tenho a presunção de responder tal interrogação, a minha intenção é investigar esta figura instigante, denominada seja por Lúcifer, Diabo, ou Satanás, com base em alguns documentos alheios ao costumeiro viés bíblico ocidental que toma nosso imaginário.

Mas além disso, dentro do ínfimo campo de convergência das mais variadas vertentes, queremos mostrar que Lúcifer é um ser não-humano, conhecedor das verdades do Universo e, apesar de ser mencionado em alguns livros como um arcanjo, a realidade é que a definição da casta angélica de Lúcifer é discutida até os dias de hoje.

Em nosso texto, vamos percorrer estas algumas trilhas, que vão nos levar a interpretações fora dos padrões, mas que podem lançar luz a uma reputação assassinada por um pensamento arcaico, transformando a base cultural oriunda de milênios em novas visões embasadas por pensamentos mais modernos sobre Lúcifer.

O ANTAGONISTA DE DEUS

A tradição nos conta quee Lúcifer fora concebido junto aos demais anjos no segundo dia da criação, sendo possuidor de uma perfeição o levaria à queda pelo orgulho de construir um trono acima de Deus.

Ele teria convencido um terço dos anjos do Paraíso em prol de sua causa e combateu as tropas do Arcanjo Miguel em uma batalha que ficou conhecida como A Primeira Guerra do Céu. O fim da batalha é a derrota das hordas comandadas por Lúcifer que foram enviadas ao Inferno junto com seus seguidores.

À partir daí, Lúcifer se torna Satanás, o Diabo, o antagonista de Deus, tomando para si a missão de acabar com os planos que o Senhor tinha para, nós, seres humanos. Ele estaria disputando com Deus no Apocalipse pela soberania da Criação.

ALGUMAS CONTROVÉRSIAS MOTIVADORAS SOBRE LÚCIFER

Ao longo dos séculos vimos surgir controvérsias acerca da figura de Lúcifer.

Por exemplo, outros documentos além dos relatos bíblicos narram esta batalha celeste onde alguns personagem são “trocados”, e nos Pergaminhos do Mar Morto, registra-se que Miguel liderou os filhos da luz contra os filhos da escuridão, comandados pelo futuro demônio Belial.

Alguns estudiosos ainda afirmam que a passagem que descreve a queda de Lúcifer na Bíblia, na verdade traria um erro de tradução para o termo “Filho da Manhã”, que fazia referência ao rei Nabucodonosor, da Babilônia, sendo a queda da narrativa uma alegoria para a sua morte.

Ou seja, existem caminhos a serem explorados quando queremos investigar um personagem tão controverso como Lúcifer.

Assim, o que proponho é libertação dos dogmas passados de geração após geração, uma investigação livre de amarras e de mente aberta sobre Lúcifer.

ONDE ENCONTRAMOS LÚCIFER NA BÍBLIA SAGRADA?

A queda de Lúcifer na Bíblia Sagrada é descrita em dois capítulos de livros distintos. No capítulo 14 do livro de Isaías e no livro de  Ezequiel, capítulo 28, é Lúcifer é apresentado como “um sinete de perfeição, cheio de sabedoria e formosura.”

Ele também está no Novo Testamento. No livro de Lucas, a queda de Lúcifer, a partir daí já referenciado como Satanás, é o que evento nos apresentaria à gênese do pecado no Universo, sendo Lúcifer o primeiro pecador e o orgulho o pecado inicial.

No fim dos tempos, após a batalha épica do Apocalipse contra Deus, Lúcifer será atirado em um rio de lava, onde sofrerá eternamente. Mas, por enquanto, ele é denominado como “o príncipe deste mundo” e “o deus desta era”, tendo poder limitado em múltiplas esferas de existência.

TODA A IMAGÉTICA DE LÚCIFER VEIO DA LITERATURA SECULAR.

Somente em 1611, com o advento da Bíblia do Rei James que os termos Luxferre, Lucis e Lúcifer foram trazidos para as páginas da Bíblia Sagrada como associação ao mal.

Muito antes disso, a figura maléfica e inimiga de Deus dada à Lúcifer foi gestada e nasceu na cultura ocidental pela literatura. Por mais absurdo que possa parecer, duas obras em particular incutiram no imaginário popular ocidental que Lúcifer é o “Senhor das Moscas”, o “Príncipe de Todo o Mal”.

São elas, “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, e “Paraíso Perdido”, de John Milton. No clássico de Dante, Lúcifer é encontrado no Canto XXXIV, da primeira parte, o Inferno, e descrito com medonhas e que estaria cravadas no imaginário popular até que os deuses pagão com chifres fossem associados ao Diabo e por transitividade a Lúcifer.

“Paraíso Perdido”, de John Milton é um clássico da literatura poética, também publicada em cantos, que conta a história do princípio da criação do mundo.

Lúcifer tem uma presença de destaque em todos os dez mil versos que o compõe e é aqui, não na Bíblia, onde está uma de suas frases mais conhecidas: “É melhor reinar no Inferno do que servir no Paraíso”.

Ao contrário da figura horrenda de Dante, o Lúcifer de Milton se mostra carismático e persuasivo.

O PORTADOR DA LUZ

Historicamente, grande parte de nossa sociedade religiosa tem Lúcifer como a representação de todo o mal, um opositor dos propósitos de Deus.

Entretanto, seu nome, em latim, quer dizer “aquele que traz a Luz”, ou o “Portador da Luz”.

Ele ainda é referenciado como Lexferre, que pode se traduzido como “a mais brilhante estrela vespertina”, que também o associa aos planetas Vênus (que é um símbolo de beleza e elegância feminina), por consequência à deusa Afrodite, e Saturno.

É interessante observar que alguns textos antigos traziam referências a  Lúcifer com a mais brilhante “estrela da manhã” e não como o “Pai de todo Mal”.

Na antiga Babilônia, o título “Estrela da Manhã” era atribuído a um rei tirano  que, segundo os profetas antigos, estava fadado à queda de sua graça por causa de seus desígnios malignos.

Este rei ainda era denominado de Príncipe dos Demônios, nuca sendo demais lembrar que os babilônios, naqueles tempos, eram adeptos da mitologia suméria, de caráter politeísta antropomórfico.

Extrapolando as correlações mitológicas, Lúcifer pode ser encarado como uma versão judaico-cristã como aquele que entregou o conhecimento à humanidade quando os fez comer da Árvore Proibida no Éden.

Com isso, estabelecer associações entre Lúcifer e personagens de outras mitologias como Prometeu, Samyaza, Viracocha e Kukulkan não demanda muito esforço, afinal, todos são figuras míticas responsáveis por roubarem dos deuses algum conhecimento e dar ao ingênuos seres humanos.

Todos foram de algum forma rebeldes ao trazeram luz e conhecimento à humanidade.

LÚCIFER E A TEORIA DOS DEUSES ASTRONAUTAS

Essas associações mitológicas a Samyaza, Viracocha e Kukulkan giram nosso foco para a mais estranha conjectura a respeito deste personagem central em nosso texto seja a de que ele seria, na verdade, um ser de outro planeta.

Afinal, todos esses nomes estão ligados às Teorias dos Deuses Astronautas.

Por essa linha de raciocínio, os anjos caídos, liderados por Lúcifer, seriam extraterrestres que se rebelaram dentro de uma tripulação maior, com o desejo de tomar o poder dos caminhos para a instrução da raça humana.

Se seguirmos por esta linha podemos ligar as associações de Lúcifer, Samyaza, Kukulkan e Viracocha, todos estreitamente simbolizados por serpentes, como representações de um mesmo ser extraterreno reptiliano, que ainda traz forte semelhanças com os Anunnakis (palavra que significa aquele que desceu o céu).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não existem discussões quanto ao caráter interpretativo de cada viés estudado sobre o personagem Lúcifer.

Além das apresentadas, ainda podíamos enumerar as visões presentes no Livro de Urântia e o conceito da inexistência de Lúcifer no espiritismo.

Hoje, muitos de nós nos prendemos ao que nos foi dito como verdade absoluta sem pensar melhor nas arestas e incongruências destas verdades que seguimos, pelo simples fato de que nos foi ensinado que discutir, analisar e questionar quesitos religiosos é errado e blasfemo.

Desta forma, a maioria de nós prefere a “verdade” de outros do que a nossa “verdade”.

Nesta lógica, minha busca foi baseada nas diversas variações acerca do personagem Lúcifer como um arquétipo presente nas mais diversas culturas e que, apesar de ser associado ao negativismo geral, tem como um de seus símbolos a serpente, sinal comumente associado à sabedoria em grande parte das culturas antigas e, em especial, no caduceu, um símbolo que traz a proteção dos mensageiros.

Tentei ao máximo fugir das relações religiosas modernas, bem como das associações de Lúcifer a linhas filosóficas como o luciferianismo, satanismo, dentre outros, por encarar alguns destes segmentos como derivações da apresentação cristã de Lúcifer ou variação religiosa de alguma ideia aqui apresentada já como variação de relatos históricos ou passagens mitológicas.

A ideia neste texto era abrir outras possibilidade de interpretações que não são inerentes a estes pensamentos filosóficos que poderão ser abordados futuramente.

O mais importante é se livrar de amarras dogmáticas e tentar analisar friamente as conexões, sem a preocupação de colocar a fé à prova, exercendo a inteligência do livre arbítrio para argumentar de modo coerente e solidamente embasado a sua conclusão, sempre respeitando que o outro assim também o fez e nada afirma que uma delas é superior.

A minha só foi estabelecida após este estudo (e o pouco já estudado sobre satanismo nos anos rebeldes de curiosidade inconsequente), mas não quis embuti-la dentre estas mal traçadas linhas que tentaram sistematizar o fruto de alguns meses de satisfação depravada de minha curiosidade indecente.

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2 comentários em “Lúcifer | Uma Entidade do Mal ou o Portador da Luz?”

  1. Muito bom, irmão! Há poucos conteudos assim sobre Lúcifer e é bom ver algo diferenciado, bem escrito e que não leva ao ódio, mas a dúvida para chegarmos a melhores conclusões.

E você? O que pensa sobre isso?