O LIVRO DA LEI | O que está escrito no livro de Aleister Crowley?

“O Livro da Lei”, de Aleister Crowley, é um dos volumes mais controversas dos séculos XX!

Assim como seu escritor é uma das figuras mais polêmicas da virada do século XIX para o século XX.

Na mesma proporção, o conjunto de sua obra é um dos responsáveis por modernizar o ocultismo e o ápice de sua bibliografia está n’ “O Livro da Lei”, o livro onde ele dava início à sua jornada de arauto do Novo Aeon, reclamando para si o detentor da ligação direta com os deuses.

Também referenciado como “Liber al vel Legis”, ou apenas “Liber Al”, seu conteúdo foi concebido por um processo de canalização, sendo aberto por um rígido código de conduta, de leitura e prática.

E quem se dedicar à sua leitura estará diante de um livro complexo, mais conhecido do que realmente lido. Ouso dizer, pouco compreendido até mesmo por muitos que leram suas páginas.

O Livro da Lei - O que está escrito no Livro de Aleister Crowley

Além de uma íntima e interessante ligação com a vida de Crowley, este livro instituiria a base de todo conhecimento oculto que o tornou famoso: a “Lei da Thelema”, sendo de suas páginas de onde nascem axiomas como

1) “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei”;

2) “Amor é a Lei, amor sob Vontade”; e

3) Todo homem e toda mulher é uma estrela”.

Estes ficariam conhecidos como as três leis da Thelema, diretamente ligados aos três graus que se referem: o eremita, o amante, e o homem da Terra.

Além deste trinômio, também chama a atenção o verso que dialoga com o conceito do infinito, que levou à loucura alguns daqueles que buscaram mergulhar no seu sentido, seja filosófico, religioso, ou matemático. Nas palavras de Crowley: “Todo número é infinito, não há diferença”.

Num contexto geral, existe uma apologia ao indivíduo em vez da sociedade n’ “O Livro da Lei”,  além de ser o estabelecimento da Lei da Thelema, a única forma de preservar liberdade individual e assegurar o futuro da raça humana.

“O Livro da Lei” também anuncia um profeta que viria depois de Crowley para expor uma mensagem codificada no livro, e para o próprio Crowley “O Livro da Lei” era o mais importante ganho intelectual da humanidade.

O LIVRO DA LEI

Dividido em três capítulos, cada um transmitindo a mensagem de um dos deuses da trindade sagrada da Thelema (Nuit, Hadit e Ra-Hoor-Khuit), “O Livro da Lei” é um manuscrito de apenas 21 páginas em sua forma original, recheado de códigos cabalísticos, referências bíblicas e mitológicas, além de uma gramática caótica, ditado pela entidade Aiwass num processo de canalização.

Numa simplificação, “O Livro da Lei”  é um livro sagrado de deidade tri-partida, que “explica o Universo”:

“Cada um de nós tem assim um universo só dele, mas ele é o mesmo universo para cada um, já que inclui todas as experiências possíveis. Isto implica na extensão da consciência para que inclua todas as outras consciências.”

O primeiro capítulo é “ditado” por Nuit, a Rainha do Espaço, Senhora do Céu Estrelado, que apresenta o maior de todos os lemas da Thelema: “Faze o que tu queres”! E aqui também é onde a segunda lei da Thelema (“Todo Homem e toda Mulher é uma Estrela) é proferida, sendo, num todo, o mais hermético e poético terço do livro.

Nuit se apresenta como mensageira da alegria, do prazer e da poesia, e usa o inverso da lei da expiação cristã para expor a moral da filosofia thelêmica, bem como sua indiferença por aqueles que perdem sua alegria essencial e anuncia Crowley como seu profeta.

No segundo capítulo, Hadit é uma deidade que não existe na mitologia egipcia, sendo um dos deuses típicos da Thelema, tendo a forma de um sol alado, a forma solar de Hórus, e quem declara as maiores divergências frente ao cristianismo: “compaixão é o vício dos reis”.  Também quem reforça o desprezo ao fraco: “Essa é a Lei do forte!” 

Em sua mensagem, no segundo capítulo, diz:

“Sê forte, ó homem! Arde, usufrui de todas as coisas de senso e êxtase. Não tema que qualquer deus  te negue por isto. Eu sou só, não existe Deus onde eu sou”. 

Hadit também é quem declara o fim da Era de Osíris e o começo da Era de Hórus, e que ela será um período dos fortes.

Todavia, toda a discussão e maldizer que envolve este livro vem de seu terceiro capítulo, que beira a repugnância se lido superficialmente. Aqui o “Deus da Guerra” referencia Nuit como nosso refúgio, Hadit como nossa luz, e se apresenta como a potência, força e vigor de nossas armas.

Diz ainda que com sua cabeça de falcão bica os olhos de Jesus na cruz, cega os olhos de Maomé com suas asas e dilacera com suas garras a carne do Hindu, e do Budista.

Afirma ainda que “eu cuspo em vossos credos crapulosos”. E continua: “Que Maria inviolada seja despedaçada sobre rodas, por causa dela que todas as mulheres castas sejam completamente desprezadas entre nós”.

Este terceiro capítulo tem quase um aspecto premonitório quanto as guerras do século XX, mas muitos confundem seu hermetismo e cifras  com anarquismo misturado a satanismo, dando origem a interpretações erradas, algumas até mesmo motivadas pelo comportamento libertino e pouco usual de Aleister Crowley.

A associação ao satanismo não é estranha, mas no meio ocultista, esse termo define basicamente o sistema criado por Anton LaVey, que escreveu sua Bíblia Satânica inspirado em textos de Crowley.

Nem mesmo Crowley conseguiu seguir a filosofia thelemica à risca, afinal ele procurou esta energia interior, a Vontade, durante muito tempo através de rituais sexuais.

O próprio Crowley confessaria ter, em dado momento, repulsa por “Liber Al”, mas compreenderia seu significado tendo escrito alguns importantes comentários sobre a obra, afinal, um dos principais dogmas da Thelema, aquele que dizia que O “Livro da Lei” não pode ser discutido e  orienta-se que seja queimado depois de lido, não se aplicava ao profeta do Novo Aeon.

POR FIM…

A falta de compaixão e a violência do livro deve ser contextualizada e entendida à luz filosófica, assim como fazemos com qualquer texto sagrado (o que o “O Livro da Lei” é para os thelemitas.).

Depende de fé, ressonância e empatia. O Antigo Testamento também possui passagens chocantes e contraditórias, e até os ensinamentos de Jesus carecem de interpretação.

Este livro é apenas o início da vasta obra que Crowley deixou, onde tentava desenvolver e entrar em contato com a energia interior, e usa-la produtivamente para modificar por completo sua vida. A Vontade citada no texto está mais ligada ao Tao e ao Dharma, ou à “missão” dos espíritas, do que a caprichos e desejos terrenos.

Se de fato for verdade, “O Livro da Lei” marca o início de uma Nova Era, como tantas descritas nas mais diversas culturas, como a Era do Fogo, a Era Pagã, a Era Cristã (baseada em Osíris e Jesus). E não precisa e muito esforço para ver como as coisas mudaram no século XX.

“O Livro da Lei” profere um simples código de conduta pelas três leis da Thelema para a Era de Aquário, Nova Era, Neopaganismo, ou a era de Hórus para os thelemitas, de profundas e drásticas mudanças no inconsciente coletivo da humanidade.

É apenas o alicerce da Thelema que possui outros tantos livros que ajudaram estabelecer os seus princípios. A primeira ordem iniciática a adotar o “Livro da Lei” como livro sagrado, que guiará as decisões da vida do iniciado, foi a Ordem Iniciática da Estrela de Prata, comumente referenciada como  A.·. A.·., e fundada por Crowley e George Cecil Jones.

Com o advento da contracultura e do ideário hippie no fim dos anos 1960, a obra de Crowley, por consequência “O Livro da Lei”, ganhou ressonância vinte anos após a morte de seu escritor influenciando artistas à partir de então, principalmente na música, alguns deles confessos admiradores da Besta666, como Jimmi Page, Ozzy Osbourne, e Raul Seixas (como você pode conferir neste texto).

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