Fraternidade Rosacruz | História, Filosofia e Simbolismo

A antiga Fraternidade Rosacruz teria surgido há meio milênio de acordo com relatos dos membros da ordem, no Egito e na Índia, berços do conhecimento sagrado e milenar da sabedoria oculta.

A filosofia da ordem permeia ensinamentos e fundamentos de outras, como a Maçonaria,e até mesmo a Golden Dawn. A Fraternidade Rosacruz, no Século XIV, seria uma sociedade formada por “seres altamente espiritualizados, puros e de incomensurável sabedoria”, como alquimistas, médicos e matemáticos, num total de doze pessoas que teriam sido orientados por um “Cristão Rosa Cruz”.

Desta forma, secretamente, a fraternidade conhecida como “Ordem Rosacruz” estava formada, dentro de uma aura de mistério, e nada fora revelado até 1614, a não ser para alguns iniciados.

Suas primeiras ideias teriam sido difundidas por Johann Valentin, um pastor luterano alemão, em obras publicadas entre 1614 a 1616, numa série de manifestos.

Em 1614 foi publicado “Fama Fraternitatis”, o primeiro manifesto Rosacruz, onde temos a primeira menção da irmandade pelo seu nome, narrando sua história à partir da vida e da morte do alemão Christian Rosenkreuz, um pseudônimo óbvio, a fonte da filosofia moral e espiritual da ordem.

+ sobre a lenda de Christian Rosenkreuz nesse texto especial.

Até por isso, o rosacrucianismo começou como um mito.

Um ordem supostamente fundada por Christian Rosenkreuz  em 1409. Alguns ocultistas ainda afirmam que Rosenkreuz é uma das reencarnações de figuras como Hiram Abiff, Lázaro, Conde de St. Germain e Rasputin.

Em sua gênese, combinavam uma ideia de transformação social, estudo da alquimia, cabala, misticismo e teologia cristã.

Muito do pensamento Rosacruz neste início veio de um antigo livro preservado ao longo dos anos e que reapareceu na Itália, traduzido, em 1463, o “Corpus Hermeticum”, atribuído a Hermes Trismegisto.

+ sobre Hermes Trismegisto nesse texto especial.

A Ordem Rosacruz iniciou uma maciça campanha de promoção somente no Século XVIII, em Paris, em cartazes distribuídos “pelos representantes da principal sociedade os irmãos Rosacruz”  e propunham mostrar “ensinamentos, sem livros e máscaras, falando a língua de todos os países em que quisermos ficar, para tirar nossos irmãos do erro da morte”.

O interesse na ordem foi disseminado, tanto dos adeptos quanto da Igreja, essa última reagindo com hostilidade e protestos ao rosacrucianismo, denunciado como pacto satânico.

Os Rosacruzes foram associados a discípulos do demônio, que realizavam Sabás, no qual o príncipe das legiões do inferno aparecia diante deles, coberto de jóias e brilhando com o fogo do inferno, e eles renunciariam a todos os ritos e sacramentos da Igreja de Cristo.

Em troca, o Diabo dava-lhes poderes sobrenaturais, como o teletransporte, oratória, disfarces e riqueza, pois eram praticantes da alquimia.

Algo também infligido aos Templários, séculos antes. Mas ao contrário dos cavaleiros do Templo de Salomão, após a difamação da Igreja, os cartazes sumiram e nenhum membro Rosacruz foi encontrado.

Muitas teorias ainda alocam Francis Bacon entre os primeiros Rosacruzes alemães, servindo até mesmo com presidente desta ordem em seu início.

Nome importante para o desenvolvimento filosófico também da maçonaria, Sir Francis Bacon, o pioneiro do método científico, tinha ligações diretas com os maçons do Novo Mundo.

Alguns estudiosos inclusive colocam Francis Bacon como um um dos primeiros chefes maçons, muito por suas relações com Willian Schaw e Sir Robert Moray, figuras centrais da maçonaria de seu tempo. Além disso, ele tinha conexões diretas  com a América e seu próprio conceito de Nova Ordem Mundial.

A ligação entre os Rosacruzes e Francis Bacon pode estar em Robert Fludd (1547 – 1637), um médico inglês influenciado pelas ideias de Paracelso e que quase imediatamente começou a difundir o rosacrucianismo em inglês.

No prazo de dois anos as idéias Rosacruzes foram amplamente divulgadas na Europa e nas Ilhas Britânicas.

Até por isso, sendo Francis Bacon um discípulo de John Dee não estranha o fato de que o “mago inglês” seja fonte de algumas das ideias que alimentaram o rosacrucianismo na Alemanha.

Inclusive, na introdução à edição Brasileira de “Mônadas Hieroglíficas”, um dos mais importantes trabalhos de John Dee, Marcos Torrigo nos diz que

“Quando de sua permanência no continnente europeu, Dee é mencionado como fundador, ou divulgador, do movimento rosacruciano, bem como é tido  por espião inglês.”

+ sobre Francis Bacon nesse link

+ sobre John Dee, o mago inglês, nesse texto especial

Outro nome emblemático vinculado aos rosacruzes era Albert Pike, sobre o qual escrevemos esse texto especial.

Claro, não nos esqueçamos que Napoleão Bonaparte, imperador da França, era Mestre da Ordem Parisiense Rosa Cruz e utilizava o colar cerimonial decorado com a cruz rósea.

A ordem nasceu antes dos illuminati, e já tinha uma postura menos incisiva mas não menos anti-católica, numa guerra de ideias.

Os primeiros rosacruzes chegaram à América em 1694.

MAX HEINDEL E A FRATERNIDADE ROSACRUZ

Os historiadores da ordem contam que, em 1908, o dinamarquês Max Heindel, depois de ser testado em sinceridade de propósitos e desejo desinteressado em ajudar seus semelhantes, se tornou o mensageiro dos Irmãos Maiores, para transmitir os ensinamentos Rosacruzes ao Ocidente e preparar a humanidade para a futura Era de Fraternidade Universal.

Estes Irmão Maiores seriam descritos como “gigantes espirituais  da raça humana”, e eles teriam orientado Heindel a escrever “Conceito Rosacruz do Cosmos”, livro que virou referência para espiritualistas e ocultistas ocidentais.

Porém, tais ensinamentos foram passados a Heindel com a condição de que não poderia estabelecer preço por eles, com intuito de conquistar benefícios financeiros para si. Condição respeitada por ele e pela Fraternidade Rosacruz (The Rosicrucian Fellowship).

Heindel se dirigiu à América com o intuito de revelar os ensinamentos misteriosos da Fraternidade, estabelecendo a Escola de Mistérios do Mundo Ocidental. Porém, mesmo que muitas ordens utilizem a palavra Rosacruz, quase todos não possuem ligação com a Ordem original.

A sede mundial da Fraternidade Rosacruz foi fundada por Heindel, em 1909, na Califórnia, de onde dirigiu todos os trabalhos até 1919, anos de seu desencarne.

Os seguidores da Ordem garantem que a Fraternidade é mantida por doações voluntárias de seus estudantes e simpatizantes pelo mundo.

A AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz)

Atualmente, uma das maiores organizações Rosacruz é a AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz) fundada por H. Spencer Lewis, em 1915, uma personalidade que já havia sido filiado à Ordo Templi Orientis, de Aleister Crowley.

Com membros em todo o mundo, a Ordem promove valores místicos, educacionais e humanitários sem se ligar a qualquer religião.

A AMORC possui um alfabeto especial e muitos símbolos importantes, incluindo o Selo do Grande Mestre e o Selo do Supremos Secretário.

A FILOSOFIA ROSACRUZ.

A filosofia Rosacruz estabelece uma ligação entre ciência e espiritualidade, estando a Ordem Rosacruz longe de uma seita ou organização religiosa, se descrevendo como uma Escola de Pensamento como objetivo de despertar a humanidade para o conhecimento das Leis Divinas, condutoras da evolução do homem.

Tendo suas raízes nos ensinamentos de Hermes Trismegisto, a tríade que sustenta a filosofia Rosacruz é formada pela cosmologia gnóstica, a antropologia gnóstica e o Evangelho, se afinando ao cristianismo gnóstico dos cátaros.

Além disso, buscam ainda

“explicar as fontes ocultas da vida – o homem, conhecendo as forças que trabalham dentro de si mesmo, pode fazer melhor uso de suas qualidades”.

E também

“ensinar o objetivo da evolução, o que habilita o homem para trabalhar em harmonia com o Plano Divino e desenvolver suas próprias possibilidades, ainda desconhecidas para grande parte da humanidade”.

Um de seus maiores esforços é

“mostrar as razões pelas quais o serviço amoroso e desinteressado ao próximo é o caminho mais curto e mais seguro para a expansão da consciência espiritual.”

De fato, muito da filosofia, simbolismo e pensamento Rosacruz vem do gnosticismo.

O termo gnosis vem do grego e significa “conhecimento”. Mas um conhecimento não somente construído pelo acúmulo de informações, e também por experiência, reflexão e autoconhecimento. Um caminho para descobrir uma verdade espiritual elevada.

Acredita-se que a filosofia gnóstica é pré-cristã, sendo que alguns se autodenominam como cristão originais. Os gnósticos acreditam que Cristo não era verdadeiramente humano, mas um avatar ou mensageiro que veio na forma humana.

Junto a gnose outras raízes do pensamento rosacruz estão fincadas na alquimia espiritual e material, metafísica, arquitetura sagrada, meditação, práticas místicas e tudo que envolve a Escola de Mistérios do Antigo Egito.

O SIMBOLISMO ROSACRUZ

Os símbolos rosacruzes se classificam em:

  1. Naturais e artificiais;
  2. Objetivos, subjetivos, e subconscientes;
  3. Individuais, culturais ou coletivos, e Cósmicos.

Os símbolos são usados para diversos fins, como:

  1. Formular ideias, emoções;
  2. Na comunicação;
  3. Na preservação da filosofia, ciência, etc.;
  4. Na expressão pessoal;
  5. Como recurso de instrução e memorização;
  6. Em meditação e concentração;
  7. Para promover integração psicológica e união mística.

O nome Rosacruz remete a “cruz rósea”, utilizada esotericamente para simbolizar o sangue de Cristo perdido na cruz.

Os sete níveis de iniciação estão representados nas sete fileiras de sete pétalas que formam um flor.

O símbolo da cruz e da rosa já eram unidos desde Martinho Lutero, que os usava em seu emblema no começo do século XVI.

A rosa central representa o coração de Cristo, luz divina, e o Sol no centro da roda da vida.

As rosas têm um grande significado alquímico e hermético: a rosa dourada significa perfeição, a rosa azul, o intangível, a com sete pétalas representa os dias da semana e os sete degraus da iluminação e a de oito pétalas simboliza regeneração.

Já a Flor de Lótus é um elemento muito comum na arte e decoração do Antigo Egito. O desabrochar de suas pétalas é comparado à expansão da alma ou ao gradual despertar do espírito para a luz.

Até pelo apresentado na seção anterior, a simbologia rosacruz, ao menos os símbolos principais, foram herdados do gnosticismo.

Abaixo, pinçamos alguns símbolos principais no pensamento e filosofia rosacruz.

CRUZ ROSACRUCIANA

Cruz RosacrucianaPara os rosa-cruzes, a maneira como a rosa desabrocha abrindo suas pétalas simboliza a elevação espiritual gradativa.

A cor vermelha simboliza o sangue de Cristo e o coração dourado no centro da rosa representa o ouro espiritual no coração humano.

A rosa simboliza o coração, que é utilizado poara simbolizar o amor e a compaixão adquiridos nas práticas espirituais.

ROSA CRUCIFIADA

Rosa Crucificada

Esse é o símbolo original da Ordem Rosacruz, a rosa hieroglífica crucificada no centro de uma cruz.

As camadas das pétalas representam estágios da iniciação e o centro simboliza a unidade com Cristo.

OUROBOROS

O Ouroboros (também um dos símbolos maçônicos) possui significados diversos em outras associações e linhas esotéricas, estando ligado ao simbolismo do círculo.

A “Serpente Mundial”, como os gnósticos chamam o Ouroboros, simboliza  a humanidade presa à Terra, atrelada a um sistema que evita a conexão com o divino.

OURO E A CRUZ RÓSEA

Ouro e a ruz RóseaSimbolo do ouro espiritual, o Ouro e a Cruz Rósea é usado como insígnia pelos rosacruzes.

Geralmente, traz os símbolos alquímicos do sal, de enxofre e do mercúrio, uma estrela e as palavras fé, esperança, amor e paciência.

Os iniciados  não podiam alcançar o nível de adeptos até ter transmutado o metal básico da ignorância no ouro puro da sabedoria e do entendimento por meio de rituais, ritos e aprendizado dos segredos da fraternidade.

ABRAXAS

abraxasO deus Abraxas ou Anguipede tem o corpo humano com cabeça de galo e pernas de cobra.

Era símbolo de Panteus, todos os deuses em um só.

Abraxas é encontrado na mitologia grega, mas era também mencionado nos textos gnósticos, assim como nos Evangelhos Egípcios.

ABRACADABRA

abracadabraOriginalmente um encantamento mágico, este símbolo era usado para espantar o mal em cerimônias ocultistas no Segundo Século Gnóstico no Oriente Médio.

A palavra era escrita em pedaço de papel, que era dobrado e usado como um amuleto por nove dias, e , antes do anoitecer, era ritualmente jogado de costas.

O JARDIM

O jardim é um símbolo arquétipo, cuja forma serve de contraste ao caos, e seu cercado simboliza a separação da ordem interna com a terra selvagem externa.

O cultivo do jardim simboliza o desenvolvimento e a transmutação espiritual, e às vezes representa ensinamentos secretos.

Ainda simboliza o eu unificado, representa a presença do Ser Cósmico ou Divino no Mundo. Um microcosmo cujas partes encontram representações no homem.

Alquimicamente, o jardim é o local sagrado; o lugar onde ocorre a transmutação. Na alquimia transcendental, essa transmutação é espiritual; a evolução do Eu interior, representando, assim, o elemento divino no homem e no mundo.

A MONTANHA

A montanha pode ser associada ao outro mundo, ao mundo inferior.

O templo está muitas vezes situado ao pé ou no topo da montanha, que sendo de pedra pode ser associada a símbolo como a Pedra Filosofal, o altar feito de pedra, a pedra fundamental simbólica de uma construção sagrada.

Na literatura alquímica, o templo era às vezes situado dentro da montanha.

A ÁRVORE

A árvore sagrada ou cósmica é muitas vezes encontrada no jardim, ou no bosque sagrado, que é um símbolo semelhante.

As árvores são um dos símbolos mais antigos da humanidade. Sua forma longa e vertical simboliza o centro do mundo ligado ao mundo inferior, à Terra e aos Céus.

As florestas simbolizam lugares de transformação. Ao entrar em uma floresta simbolizava entrar num lugar desconhecido, as trevas, onde o homem poderia vivenciar experiências místicas e aprender ciências ocultas. Ao voltar para a Luz, a pessoa estaria mudada, simbolizando que a exploração do inconsciente pode levar à iluminação.

Atrelados ao símbolo da Árvore estão outros símbolos como o Caduceu, a Escada de Jacó, a Cruz e a varinha mágica.

Lectorium Rosacrucianum: A ROSACRUZ ÁUREA

A Rosacruz Áurea (Lectorium Rosicrucianum)é uma derivação da Fraternidade Rosacruz de Max Heindel que foi fundada e instalada por Jan Van Rijckebborgh, Catharose de Petri e Zwier Willem Leene tornando-se uma Ordem Rosacruz própria e autônoma.

Como parte de sua filosofia, a Rosacruz Áurea inclui ideias de alguns pensadores mundialmente consagrados que, propriamente não eram membros da fraternidade, mas que traziam ensinamentos iluminados, em acordo com a gigantesca e permanente tarefa mística.

+ sobre a Rosacruz Áurea nesse nosso outro texto inteiramente dedicado à ela.

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