KU KLUX KLAN | A história da temida e intolerante KKK

Meu primeiro contato com a K.K.K., ou a Ku Klux Klan, foi com o chocante filme “Mississippi em Chamas”, do diretor inglês Alan Parker, lançado em 1988.

Na trama, dois agentes do FBI, interpretados por Willem Defoe e Gene Hackman, investigam o desaparecimento de três ativistas negros, o que chama a atenção dos membros locais da Ku Klux Klan.

Os três jovens desaparecidos eram militantes dos direitos civis e tentavam convencer seus vizinhos negros a lutarem pelo direito ao voto.

A Ku Klux Klan local logo começa a infligir ataques terroristas à dupla, transformando o pequeno vilarejo do sul dos Estados Unidos num campo de batalha.

O mais impressionante em  “Mississippi em Chamas” é que ele foi baseado em fatos reais. Claro que embebido de uma dose de ficção em sua versão nas telas.

Em suma, o que temos como fatos mais conhecidos é que a KKK, ou  Ku Klux Klan, é uma sociedade secreta fundada em 1865 por oficiais do Exército Confederado revoltados com a abolição da escravidão nos EUA após o fim da Guerra Civil.

Nesse texto, pretendemos explorar a história deste grupo racista e criminoso surgido no século XIX defendendo leis segregacionistas nos EUA, responsável por massacres, estupros e linchamentos, entre outras atrocidades, e que ainda segue sólido e atuante.

Ku Klux Klan - A História da Temida e Intolerante KK

1. Ku Klux Klan: A Simbologia de uma Sociedade Secreta

Sem dúvidas, a Ku Klux Klan se encaixa como uma sociedade secreta:

  1. Seu seguidores obedecem códigos secretos e rituais de conduta;
  2. viveu na maioria de sua existência na clandestinidade.

Até o fim da década de 1920, alguns grupos da KKK empunhavam ainda a bandeira do Exército Confederado (que representou o sul dos Estados Unidos, defendendo a escravidão, na Guerra Civil) como simbologia de ultranacionalismo e da repulsa aos negros e imigrantes.

Um dos apoiadores da segunda vinda da Ku Klux Klan, o reverendo William Joseph Simmons, um protestante extremista, dizia ter tido uma visão em que cavaleiros vestidos de branco cavalgavam a luz da cruz em chamas para libertar os EUA.

Até por isso, religião estava muito ligada à Ku Klux Klan. Os integrantes da ordem deveria ser cristãos protestantes, brancos, e nascidos nos EUA.

No ritual de iniciação dos membros da ordem eram lidos trechos da Bíblia, especificamente do capítulo 12 de Romanos, repetidos em coros pelos membros.

Seu trajes eram brancos e usavam capuzes pontudos como forma de assemelhar aos fantasmas de soldados confederados mortos durante a Guerra Civil.

O emblema do grupo trazia uma gota de sangue no formato de um número 6 representando o derramamento de sangue ariano e os primeiros seis fundadores da Ku Klux Klan.

Tudo incluído num brasão circular em justificativa à palavra grega kuklos, que significa círculo.

A cruz em chamas é outro símbolo marcante da Ku Klux Klan, representando o fogo do Espírito Santo de Cristo, trazendo luz aos rituais, onde os membros também tinham as armas empunhadas, como um símbolo de poder.

A Ku Klux Klan tinha até mesmo um acampamento de verão, onde reforçavam as ideias de comunidade e compartilhavam materiais para doutrinar os participantes.

Originalmente um grupo de ataque, a Ku Klux Klan só esmoreceu sua agressividade nos anos 1930, quando rachou sua credibilidade após crises financeiras, processos criminais e dissidências internas.

O Ritual de Iniciação da Ku Klux Klan

O novato na Ku Klux Klan era interrogado pelo chefe de cada distrito local, intitulado o Grande Titã, e tinha que entoar o seguinte juramento decorado em uníssono ao grupo:

“Lembrem a todo momento: fidelidade à fé jurada é honra, vida, felicidade. Mas, para quem infringi-la, significa vergonha, desgraça e morte”. 

Em seguida, o aspirante a membro da ordem recebia um banho de água na cabeça e nos ombros, realizado pelo líder direto do ritual, o Grande Ciclope, que proclamava o aspirante como parte oficial da Ku Klux Klan ao proferir as palavras “Em mente, em corpo , em espírito e em vida”.

Albert Pike

Não obstante, a Ku Klux Klan ainda tem na sua biografia uma suposta ligação com Albert Pike.

Reconhecido como uma das mentes mais brilhantes de seu tempo, Pike foi líder supremo da Maçonaria americana e consta como um suposto idealizador da Ku Klux Klan.

Durante a Guerra Civil Americana Albert Pike alcançou a patente de General do Exército Confederado, sendo influente tanto nos setores militares quanto políticos.

Tanto que escreveu um tratado intitulado “Moral e Dogma”, em pelo menos dois volumes, com ensinamentos maçônicos. Pike previu duas guerras mundiais com precisão, e também uma terceira a acontecer.

O Esoterismo da Ku Klux Klan

A associação com Pike, consequentemente com a Maçonaria, leva a KKK além de uma simples organização alicerçada na xenofobia, no preconceito racial e na supremacia branca.

O período pós-Primeira Guerra Mundial trouxe um novo interesse aos movimentos esotéricos, e nos Estados Unidos os trabalhos de Albert Pike que interpretavam ensinamentos gnósticos e esotéricos da Maçonaria se tornaram itens costumeiramente estudados.

Uma influência que levou, entre os anos de 1921 e 1926, quando a Ku Klux Klan teve sua segunda vinda, um pouco da mitologia e heráldica para a ordem, que ganhou tons místicos, principalmente nos nomes empregados em sua escada hierárquica.

Com a publicação dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, no início da década de 1920, e as “revelações” de Henry Ford sobre os judeus, a KKK se viu ainda mais mergulhada neste pseudo-misticismo, ao menos no que tangia à imagem da ordem naqueles anos em que se colocavam como verdadeiros cruzados modernos nacionalistas.

Alguns registros da Ku Klux Klan ainda elencam seu segundo fundador, em 1915, William Joseph Simmons, além de reverendo, como um maçom e membro da Grande Ordem dos Cavaleiros Templários, o que só aumenta as especulações místicas da KKK, cujas operações nos anos 1920 eram centralizados no Palácio Imperial situado no Império Invisível em Atlanta, na Georgia.

Até por isso tudo, existem vozes importantes que conclamam a Ku Klux Klan como apenas uma parte de um outro velho conhecido: a Maçonaria!

A HIERARQUIA NA KU KLUX KLAN

Grande Mago – Responsável por toda a área de atuação da Klan
Grande Dragão – Comandantes dos “Reinos”, os estados dos EUA
Grande Titã – Cuidava dos Domínios, junções de três condados
Grande Gigante – Líder de uma Província, ou seja, um condado
Ciclopes, Mágicos e Monjes – Líderes “religiosos”, iniciavam novos membros

A Hierarquia da Ku Klux Klan

2. Ku Klux Klan: A HISTÓRIA

A história da Ku Klux Klan começa no sul dos Estados Unidos, dois anos depois do fim da Guerra Civil norte americana  (1861-1865).

Referenciada por alguns como uma milícia criminosa, o fato é que a ordem ficou marcada pela segregação racial e pelo fanatismo religioso.

Em 1866, seis amigos saiam com lençóis na cabeça para barbarizar os negros das fazendas locais. Estes veteranos confederados se sentiam cansados dos resultados da Guerra de Secessão e da depressão que foi imposta no sul do país, o lado derrotado do confronto.

John C. Lester, John B. Kennedy, Jmaes R. Crowe, Frank O. McCord, Richard R. Reed, e Calvin Jones formavam o hexágono fundador da Ku Klux Klan, quando o que começou como uma brincadeira na pequena cidade de Pulaski, no Tennessee, se tornou violento e politicamente motivado ao longo do tempo.

Em um ano, a KKK atinge meio milhão de adeptos em diferentes cidades.

Um dos maiores problemas do pós-Guerra Civil eram os inúmeros ex-escravos que vagavam à procura de trabalho pelo interior dos Estados Unidos, sem destino, enchendo rapidamente as estradas do sul.

Com isso, instituíram no sul dos Estados Unidos o que passou a ser conhecido como “Código Negro”, um conjunto de leis que objetivavam manter a ordem neste cenário.

Porém, aos olhos nortistas esta eram apenas uma forma de restituir a escravidão.

As estradas cheias viraram alvos do membros da Ku Klux Klan, que ainda perceberam que sua presença afugentava os negros das regiões em que atuavam.

Desta forma, as brincadeira começaram a se tornar sérios ataques culminando em abordagens radicais e violentas.

O que antes era somente assustar, se transformou em açoitamentos, e, posteriormente, penas capitais.

O ápice do radicalismo se deu a partir da aprovação pelo Congresso americano da Primeira Lei de Reconstrução.

Esta de Lei de Reconstrução estabelecia um cronograma de desenvolvimento que o sul deveria seguir ao longo de um século.

Uma das medidas propostas dividia as terras conquistadas do sul em cinco distritos militares e dava o controle despótico de cada um a um comandante militar.

A Ku Klux Klan enviou delegados a uma convenção em Nashville com o intuito de derrubar a Lei de Reconstrução, o que só rendeu uma forte mobilização da polícia para identificar e prender o membros da KKK.

Em 1872, o baque da investigação tinha sido forte que a Ku Klux Klan não era nem mais um força considerável, afinal seus membros, em sua maioria, haviam sido presos.

Libertados em 1873, o entusiamos com a KKK esmoreceu, e seu legado se relegou apenas ao imaginário popular, que aos poucos apagou da memória sulista os açoitamentos e os assassinatos a sangue frio, deixando apenas uma visão romântica de cruzados modernos em defesa dos valores do sul dos Estados Unidos.

A Reencarnação da Ku Klux Klan

Até 1911, quando a Ku Klux Klan recomeçaria sua história, os contos do sul trariam-os como românticos homens encapuzados que vagavam pela escuridão em prol da justiça.

Ao mesmo tempo, as ideias do programa de Reconstrução solidificaram ideias conservadoras americanas, tirando do sono de quase meio século a Ku Klux Klan, ainda com mais ódio.

William Joseph Simmons, um georgiano magro e alto, criou uma obsessão com a antiga sociedade secreta após um acidente que sofreu e a visão mencionada no início do texto.

Tal sociedade secreta vinha das histórias romantizadas da KKK.

Quatro anos depois, ele estaria junto a quinze pessoas em Stone Mountain, na noite de Ação de Graças, defronte a um altar adornado com a bandeira norte-americana e uma Bíblia aberta, espada desembainhada e um cantil de água.

O estranho ritual também trazia uma cruz de madeira em chamas, que iluminava o juramento de fidelidade ao Império do Invisível, Cavaleiros da Ku Klux Klan, feito com todos de joelhos.

Nesse momento, Simmons já tinha trinta e quatro assinaturas  para uma permissão oficial para o funcionamento de sua associação.

A nova encarnação da Ku Klux Klan não teve a mesma adesão de outrora e em três anos havia em suas fileiras menos de dois mil homens  distribuídos nos estados do Alabama e da Geórgia.

Em 7 de junho de 1920, Simmons deixou a liderança da Ku Klux Klan para o veterano jornalista Edward Young Clarke, um conservador e radical, que via na ordem uma forma de capitalizar com a revolução moral  e de costumes que prometia o fim da Primeira Guerra Mundial, direcionando o foco da KKK não só contra negros, mas também contra judeus (motivado pela publicação dos Protocolos dos Sábios de Sião), estrangeiros e católicos.

Em apenas dois anos, com este foco, Clarke arregimentou dois milhões de membros, num forte braço contrário às minorias raciais.

Em 1924, a KKK tinha tamanha força e influência social e política que foi aceita nos mais altos escalões dos Estados Unidos, tendo em suas fileiras políticos de renome.

Não demoraram para espancamentos e mortes retornarem ao programa da KKK, mas, à partir de 1928, a ordem oscilou em períodos de maior e menor atividade, muito em decorrência da crise de 1929, que não perdoou nem a Ku Klux Klan, perdendo relevância até os anos 1960.

O mais forte momento da Ku Klux Klan

Até a década de 1960, tornou-se muito comum ver pelo interior dos Estados Unidos sujeitos à cavalo, armados e trajados com capuzes brancos, pelas noites do sul do país à procura de sangue afro-descendente para ser derramado.

Esse período foi quando a Ku Klux Klan foi mais forte, até se colocar em oposição à política democrata de integração racial, sendo combatida vigorosamente pelo presidente Lyndon Johnson, que resolveu agir após os assassinatos de negros por todo o sul do país.

A força da Ku Klux Klan no sul dos Estados Unidos e a consequente cumplicidade do povo sulista se deu conjunto de leis segregacionistas conhecidas como “Jim Crow”.

Estas leis determinavam que ônibus e estabelecimentos comerciais tivessem assentos separados para negros, e o descumprimento delas acarretava em punição pelas autoridades com ajuda da KKK.

A Ku Klux Klan chegou a ter tanto poder em dado momento que, por duas vezes na história, desfrutou de força suficiente para abalar administrações e alterar o curso dos negócios nacionais.

Em 14 de julho de 1960, aconteceu algo interessante e que marcou as origens do rock n’ roll.

Naquela data, Shelley “The Playboy” Stewart, um radialista negro, apresenta um programa de rock na estação WEDR no estado do Alabama.

Incrivelmente, o público de Stewart era predominantemente branco que àquela época se apaixonaram pela música negra.

No meio do programa, o radialista foi ao seu microfone e informou aos seus 800 espectadores – que na época assistiam aos shows nos estúdios da rádio – que teria que parar  o show, pois a temida organização racista conhecida pela sigla KKK havia mandado oitenta homens para atacá-lo e ameaçavam invadir o local.

Então, a mais remota hipótese ocorreu!

Os espectadores brancos se rebelaram, saindo correndo do local e atacando os agentes da Klan, lutando por um negro e o direito de ouvir a amada música negra.

O cenário só começou a mudar no fim dos anos sessenta, mesmo com o status de organização criminosa dado pelo governo americano desde 1870, quando a sociedade norte-americana deixou de ser condescendente com os crimes cometido pela Ku Klux Klan, muito pelos movimentos civis organizados , iniciado na década anterior por Martin Luther King.

Na década de 1970 temos um acontecimento interessante. Ron Stallworth, um policial negro, conseguiu se infiltrar por telefone na Ku Klux Klan, colocando um parceiro branco para ir às reuniões.

Outro personagem interessante na história da Ku Klux Klan é Daniel Burros. Um judeu americano, que foi membro do Partido Nazista Americano, por mais estranho que isso possa parecer!

Como se isso já não fosse estranho o suficiente, Dan Burros após se desentender com o alto escalão do partido se tornou um kleagle, ou um recrutador para a ala do Estado de Nova York dos Klans Unidos da América, uma dos mais violentos grupos da KKK em todos os tempos.

Enfraquecida relativamente por algum tempo, a Ku Klux Klan voltaria ao discurso americano nos anos 1980, através do que ficou conhecido como “Cruzadas da Luz”, que coincidiram com novas denúncias de crimes contra negros cometidos por seguidores da KKK.

Mas a partir daqui, a ordem já era fragmentada em diversas dissidências e nunca mais conseguiria se reorganizar novamente.

As “Cruzadas da Luz” eram grandes passeatas  de brancos radicais que queimavam enormes cruzes de madeira como forma de representar seu domínio.

Após alguns anos de correntes notícias e processos sobre ataques a negros, os fanáticos da Ku Klux Klan desapareceram como forma de se proteger.

Na década seguinte, a internet deu uma nova voz à KKK, levando a mensagem da ordem não só pelos próprios sites, mas também por grupos nazistas.

Em seu site “oficial”, à época, a bandeira dos confederados americanos vinha seguida de um texto que negava a agressão a negros, sendo essa uma falácia da imprensa de esquerda, e que não existe preconceito de sua parte, apenas diferenças.

Mesmo que sua principal reivindicação fosse um estado separado entre negros e brancos.

A Origem do Nome Ku Klux Klan

A história mais difundida é a de que a Ku Klux Klan emprestou do grego a palavra kuklos (círculo) e dos escoceses o termo klan (clã).

Depois de alguma discussão, os fundadores resolveram dar um cunho de mistério e confundir os não iniciados, unindo estas duas palavras à palavra Ku, gerando uma fonética misteriosa e cujo sentido teria difícil compreensão.

Todavia, uma outra história foi narrada pelo ministro presbiteriano da localidade americana de Lee County, S. A. Agneu, em seu diário íntimo de 30 de janeiro de 1867, onde ele registrou um incidente ocorrido  com uma família próxima à sua, cujo filho Jack roubara do pai 450 dólares.

Segundo seu relato, ao ser descoberto o roubo, o rapaz deixou o dinheiro perto do local onde costumava ficar uma mulher negra, para que a culpa recaísse sobre ela.

A mulher foi esmurrada, amarrada, suspensa por cordas e, em seguida, submetida a brutais rituais de tortura para que assumisse o roubo.

Sem a confissão, a verdade veio à tona e, envergonhada, a família do rapaz branco foi obrigada a mudar para o estado do Texas.

O martírio da mulher ficou conhecido como Ku Klux.

Não existe uma explicação do motivo dessa expressão ser usada, mas ela passou a ser de uso recorrente e quase um século depois passou a representar “o bárbaro suplício aplicado por cavaleiros noturnos”.

POR FIM…

Cabe ressaltar que hoje em dia a Ku Klux Klan não é um grupo compacto e unificado. Na verdade, ela se divide em grupos de extrema direita, que unidos formam o que temos no imaginário como a KKK.

Mesmo que nos dias atuais a Ku Klux Klan conte com um número proporcionalmente menor de membros que em seu auge nos anos 1960, o atual crescimento dos adeptos do discurso de extrema direita, tem provocado uma onda renovadora na ordem que começa a ganhar força novamente, mesmo que lentamente.

Também contribuem para o crescimento da ordem novas mídias digitais que permitem disseminar rapidamente suas formas de pensamento, ousando até mesmo financiar uma série de vídeos em 2009, chamados “The Andrew Show”, onde crianças de 9 e 10 anos expunham visões controversas sobre raça e religião.

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