Lúcifer | A Definição do Anjo Caído, Rei do Inferno, por Dante e Milton

A história que conhecemos de Lúcifer veio da literatura, não da Bíblia, sabia? “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, e “Paraíso Perdido”, de John Milton, criaram o mito do anjo caído que reina no submundo infernal.

Lúcifer - Dante John Milton A Divina Comédia Paraíso Perdido

Se olharmos com mais frieza e distante do temor arraigado por dogmas, assim como grande parte da história da humanidade é composta de dualidades, coube a um único personagem o papel de encapsular todo o oposto ao Deus, a entidade onipresente, onisciente e onipotente, composto de bondade e benevolência. O raciocínio é quase infantil, mas a lógica seria de que, se além destas virtudes de Deus, ainda existia o mal, quem o detinha? A Lúcifer, claro.

É importante lembrar que a maioria dos ensinamentos passados de geração em geração pela tradição cristã sobre Lúcifer tem sua bases fixadas na tradução inglesa da Bíblia Sagrada, que ficou conhecida como a Bíblia do Rei James, por volta de 1611.

Até meados do século XII, a figura do Diabo, ou de Satanás, ficou em segundo plano, mas em um determinado momento, a preocupação com sua influência se tornou parte tão grande na cultura religiosa ocidental que era mais comum ouvir falar do Diabo do que de Deus.

Somente em 1611, com o advento da Bíblia do Rei James que os termos Luxferre, Lucis e Lúcifer foram trazidos para as páginas da Bíblia Sagrada como associação ao mal. Muito antes disso, a figura maléfica e inimiga de Deus dada à Lúcifer foi gestada e nasceu na cultura ocidental pela literatura.

Por mais absurdo que possa parecer, duas obras em particular incutiram no imaginário popular ocidental que Lúcifer é o “Senhor das Moscas”, o “Príncipe de Todo o Mal”. São elas, “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, e “Paraíso Perdido”, de John Milton.

INFERNO DE DANTE: LÚCIFER POR DANTE ALIGHIERI

No clássico de Dante, Lúcifer é encontrado no Canto XXXIV, da primeira parte, o Inferno, e descrito nas seguintes palavras:

“Se um dia foi tão belo, quanto é hoje horrendo; se contra seu Criador alçou a fronte, bem entendo seja ele hoje a fonte única do mal que o mundo chora”.

Continuando a leitura, somos apresentados a um Lúcifer de características medonhas, com três faces (uma delas vermelha que exalta todo o ódio de um ser maligno), asas como as de um morcego e tão grandes quanto cabem a um ser tão volátil e mau, chorava pelos seis olhos lágrimas de sangue e espuma, e com a boca triturava a maior dos pecadores: Judas Iscariotes.

Esta foi a última visão de Dante, antes de deixar o Inferno e seguir em direção ao Purgatório, e a imagem de Lúcifer, e por consequência do Diabo, que ficaria na imaginário popular dali em diante.

Mas a principal contribuição de Dante para a tradição cristã foi a associação da figura de Lúcifer ao detentor de todo o mal do universo.

“PARAÍSO PERDIDO”: LÚCIFER POR JOHN MILTON

Você pode até não acreditar, mas a mitologia toda sobre a queda de Lúcifer que pensamos estar na Bíblia Sagrada, na verdade foi cravada no imaginário popular por uma obra de ficção. Isso porque a queda de Lúcifer na Bíblia Sagrada, por exemplo, é descrita em apenas dois capítulos de livros distintos: Isaías e Ezequiel.

“Paraíso Perdido” é um clássico da literatura poética, também publicada em cantos, que conta a história do princípio da criação do mundo. Fortemente baseado no livro bíblico de Gênesis, o autor John Milton descreve a desobediência de Adão e Eva e a consequente expulsão do casal do Jardim do Éden.

Claro que Lúcifer tem uma presença de destaque em todos os dez mil versos que compõem a obra e sua personalidade se mostra peculiarmente atraente da forma como foi colocada por Milton, atribuindo a ele frases como: “É melhor reinar no Inferno do que servir no Paraíso”.

Sim, essa frase não se encontra onde fala na Bíblia sobre a queda de Lúcifer, mas no histórico livro de John Milton, e ao contrário da figura horrenda de Dante, o Lúcifer de Milton se mostra carismático e persuasivo. A verdade é que o caráter puritano deste poema épico divide opiniões quanto a ter Lúcifer (denominado Satanás) como mola propulsora da obra.

Outra verdade é que quando dos lançamentos destas obras, a intelectualidade se encontrava ainda tão endurecida que poucos foram os que tomaram estes relatos literários sobre Lúcifer apenas como ficção e as consequências ecoam até os dias de hoje.

Leia Mais:

Livros Usados Para a Pesquisa Deste Artigo:

  1. Dante Alighieri: “A Divina Comédia” Link para o livro
  2. John Milton: “Paraíso Perdido” Link para o livro
  3. Laurence Gardner: “O Diabo Revelado” Link para o livro

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